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Damião descobriu o essencial

Neste dia em que celebramos a memória do nosso irmão São Damião de Molokai, ss.cc. o diácono Vanildo compartilha uma excelente reflexão. Que cada um de nós possamos embarcar na viajem da vida em busca do essencial.

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10.05.2024 - 15:16:00 | 5 minutos de leitura

Damião descobriu o essencial

“Jamais texto algum substituirá o amor de Jesus Cristo. Tu que começas a ler, lembra-te sempre e antes de tudo de “seu nascimento, sua vida, sua morte: eis a nossa regra. ” (RV,1). Assim inicia a Regra de vida dos Irmãos dos Sagrados Corações, apontando a centralidade da pessoa de Jesus Cristo. Hoje, 10 de maio celebramos a memória litúrgica de São Damião de Molokai, nosso irmão SS.CC. que fez de sua vida, pela graça de Deus, presença sacramental da pessoa de Jesus. Fazer memória do Apostolo dos leprosos não se trata apenas de uma recordação estática puramente histórica, mas vivencial, na dinâmica do Espirito que inflama os corações e os impulsiona a ir além.

Já afirmava nosso superior geral, Padre Alberto Toutin, ss.cc. por ocasião da beatificação de nossos irmãos mártires da Comuna de Paris, que somos uma família religiosa de mártires. Mas para além do derramamento de sangue por causa da fé, mártires no testemunho de entrega da vida por amor a Jesus e seu Evangelho. Irmãos, irmãs de diversas nações que nas fileiras de nossa congregação se entregaram ao serviço do Reino com generosidade heroica. Jesus fora verdadeiramente o centro de suas vidas, e por isso seus atos foram como faróis de luz na escuridão. Dentre estes irmãos temos o grande dom da vida de Damião, que na sua realidade no tempo e na história se fez dócil a ação do Espirito. Como Filho dos Sagrados Corações, contemplou, viveu e anunciou o amor de Deus encarnado em Jesus, viveu sua consagração religiosa na mística da encarnação, entregando-se totalmente a Deus e aos irmãos.

Sacramento é sinal visível da graça de Deus, e falamos que Damião foi presença sacramental do Cristo, porque sua vida em meio aos leprosos foi um dom de Deus, manifestando aos que sofriam a presença amorosa do Pai, no cuidado das feridas corporais e espirituais. Uma presença plena, tão humana e ao mesmo tempo tão espiritual, uma vez que decididamente partilhou da vida deles até o ponto de dizer “Nós os leprosos”. Ao fazer memória de Damião, resplandece o brilho de seu heroísmo, talvez porque vivemos em uma sociedade cada vez marcada pelo egocentrismo e pouco altruísta, e exemplos assim encontramos mais na literatura do que na realidade. Mas para além de qualquer heroísmo, aqui destacamos o homem verdadeiramente tomado por Deus, movido pela fé, esperança e caridade. Ele mesmo dizia que se não fosse a presença de Jesus na Eucaristia, não seria capaz de ficar um único dia naquela ilha. Como religioso SS.CC. tinha claro quem era o centro de sua vida, e por quais caminhos deveria trilhar para ser fiel a vida que livremente abraçara.

Hoje celebrando São Damião de Molokai, olhamos para seu testemunho que ao mesmo tempo nos anima e questiona. Anima porque como consagrados somos chamados a ser sinal da presença de Deus, como foi Damião, e mesmo com nossas fragilidades o Senhor quer contar com cada um de nós e nos sustenta com sua graça. Mas também nos questiona, e profundamente. Damião foi presença, presença que transmitia uma mensagem clara, que em Jesus de Nazaré Deus reclinou-se para cuidar de nossa humanidade tão ferida. Em Molokai havia de tudo, de pessoas devotas até aqueles que desacreditaram na vida e no amor, mas aos olhos de Damião todos tinham a mesma dignidade de filhos de Deus e recebiam igualmente os cuidados de suas mãos de pastor. Damião inclinou-se para cuidar das feridas, como seu Mestre inclinou-se para erguer os que estavam jogados nas margens e para lavar os pés.

A figura de Damião cativa, ela traz a simplicidade do Evangelho vivido na concretude da vida, pois ele amou até ao extremo. Seu testemunho soou longe e é admirável ver as tantas e variadas vocações que surgiram motivadas por sua história de vida, são sacerdotes diocesanos, sacerdotes religiosos, consagrados e consagradas de vários institutos de vida Apostólica e contemplativa, missionários e missionárias. Olhando para a grandeza daquele que se fez pequeno e servidor, ao celebrarmos sua memória litúrgica, tomamos consciência que Molokai está para além daquela realidade concreta do tempo e da história que viveu Damião. Os dramas da existência humana seguem, as realidades de morte, dor, injustiça, continuam bradando aos céus, como o sangue de Abel, e o Senhor sempre a perguntar, onde está o teu irmão? 

Damião descobriu o essencial, aquilo que era central na sua vida e vocação, que é a união profunda com o Jesus. Enquanto teve vida, rezou, trabalhou, cuidou dos seus. Deixou-se conduzir pelo Espirito, fez calar sua vontade para buscar a vontade de Deus. Contemplando a vida de nosso Irmão Damião, hoje podemos contemplar também nossa vida enquanto província, com nossas dores, dramas, nossos pecados e virtudes. Talvez muitos de nossos problemas se deem pelo fato de nos fecharmos ao Espirito, ou de preferirmos nossa própria vontade do que a de Deus. A verdade é que nos perdemos em muitas coisas e talvez nos descuidamos do essencial, estar com Jesus. Damião nos recorda nosso primeiro amor, o que nos tocou profundamente em um passado distante e nos fez dizer sim ao Senhor da Messe. Como nosso irmão, ele nos abraça, põe a mão em nossos ombros e nos aponta as Molokais que ainda hoje existem. Ele sempre nos motiva a buscar o essencial, nosso espirito de família no seguimento de Jesus na simplicidade evangélica. Que a vida de São Damião de Molokai, nosso querido Irmão Damião nos motive a seguir em frente, na vivência de nossa consagração religiosa Sagrados Corações, em cujo serviço queremos viver e morrer.

Fonte Ir. Vanildo Lima Sena, ss.cc.
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